Os miseráveis, por Victor Hugo - Livro 1

Notas do Livro 1

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Terminei o primeiro livro, que, em resumo, é a biografia do Bispo Myriel, ou como é chamado, Monsenhor Bienvenu. Já dá para notar, desde os primeiros capítulos, que Hugo não vai economizar palavras. Ele descreve o ambiente, os personagens, e vai dispor do tempo que for necessário para comunicar o que deseja. Portanto, o primeiro volume se ocupa em descrever todo um contexto ao redor do Bispo, que provavelmente terá importância ao longo do romance.

Monsenhor Bienvenu, ao contrário do que o senso comum poderia imaginar ao pensar num homem nessa posição, um bispo da Igreja Católica, não vive com riqueza ou qualquer tipo de luxo. Dos, se não me engano, 15 mil francos de seu provento como bispo, ele separa apenas 500 para sua subsistência; o restante ele destina a diversas causas sociais, ajuda aos pobres, etc. Ele não impõe regras, ele age. Doa seu salário, visita os doentes, anda a pé, escuta os esquecidos. Ao longo do livro, o bispo é retratado como um homem que vive o Evangelho: alguém que ama e ajuda o próximo, mesmo que esse outro seja malvisto, um bandido, um assassino.

Nesse primeiro livro, Monsenhor Bienvenu tem a oportunidade de provar com ações aquilo que prega, ao visitar um certo convencional G. É importante lembrar que estamos no contexto pós-Revolução Francesa, onde o rei foi condenado à guilhotina. O convencional G. participou da Revolução e supostamente votou a favor da morte do rei. Para muitos, ele era uma figura desprezível, e vivia isolado. O bispo, então, decide visitá-lo. O curioso é que, durante todos os anos em que esteve naquela cidade, nunca o fez, e mesmo quando decidiu ir, sentiu receio. Afinal, Monsenhor, apesar de sua integridade, é humano como qualquer outro. Inclusive, o texto sugere que ele é monarquista.

Nesse encontro temos, para mim, o melhor capítulo deste livro, com um diálogo importante que talvez contenha a essência de toda a obra. Monsenhor Bienvenu, homem de fé, representante da Igreja, vive e prega o Evangelho, leva uma vida de abnegação pelos pobres, mas ainda assim, é um representante de uma classe aristocrática, próxima da que foi derrubada. O convencional G., por outro lado, é um revolucionário ateu, morrendo sozinho. Atuou com coragem e senso de justiça social. Ele encara a Revolução como um passo necessário para a humanidade, mesmo que, sim, tenham ocorrido assassinatos. O rei e pessoas ligadas a ele foram executadas, inclusive crianças inocentes. O próprio bispo menciona esse horror.

Mas o bispo não está ali para converter. Está ali para compreender. Me parece que, nesse livro 1, Hugo tenta representar uma fé que não obriga, mas acolhe. Uma bondade que não espera recompensa. O convencional G. rejeita o nome “Deus” porque, para ele, esse nome foi manchado pela opressão, mas ele aceita a ideia de algo maior, uma força moral, espiritual. Ateu ou espiritualista crítico? Esse é um capítulo ao qual com certeza vou voltar.

Talvez eu tenha percebido a intenção de todo esse primeiro livro em torno do Bispo. Ele representa o amor e a piedade, uma fé que acolhe, perdoa, abraça até os excluídos. Ele é a representação do Evangelho. Enquanto o convencional G. representa a justiça, uma busca racional e firme pela transformação social, pela equidade, mesmo que com dureza e sacrifício. Ele encara o rigor da razão e da revolução. São duas faces da virtude.

O bispo reconhece a virtude moral do convencional, mesmo sem fé. E o desfecho do capítulo é emocionante: o convencional G. descreve como viveu e o que perseguiu na vida, e então pergunta ao bispo: “O que quer de mim?”. Monsenhor Bienvenu responde imediatamente com um pedido de bênção, e depois reza por ele após sua morte.

Voltando ao que Hugo talvez esteja tentando dizer… talvez a verdadeira fé não esteja nos rótulos, mas na busca sincera por verdade, justiça e compaixão.


“O homem tem sobre si a carne, que é ao mesmo tempo seu fardo e sua tentação. Ela o arrasta, e ele cede. Seu dever é vigiá-la, contê-la, reprimi-la, e obedecer a ela só em último caso. Nessa obediência ainda pode haver culpa, mas trata-se de uma culpa venial. É uma queda, mas uma queda de joelhos, que pode terminar em oração. Ser santo é uma exceção; a regra é ser justo. Errem, caiam, pequem, mas sejam justos. Pecar o menos possível é a obrigação de todo homem; não pecar nunca é o sonho do anjo. Tudo o que é terrestre está sujeito ao pecado. O pecado é uma gravitação.”

Não basta acabar com os abusos, é preciso modificar os costumes. O moinho se foi, mas o vento ainda permanece.

Sim, as brutalidades do progresso chamam-se revoluções! Depois de acabadas, reconhece-se uma coisa: que o gênero humano foi maltratado, mas que deu alguns passos adiante!

— Ó você! Ó ideal! Só você existe! O bispo sentiu uma inexprimível comoção. (...) Existe o infinito. Ele está aí. Se o infinito não tivesse um “eu”, o eu seria o seu limite; e ele não seria infinito; em outras palavras, não existiria. Ora, ele existe. Logo tem um eu. Esse eu do infinito é Deus.



Eu não sou um robô 😁Feito por um humano 😉

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