Novelas completas: Felicidade conjugal, A morte de Ivan Ilitch, Sonata a Kreutzer, Padre Siérgui

Onde está? Que morte? Não havia medo nenhum, por isso também não havia morte. Em lugar de morte, havia luz.

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Novelas completas: Felicidade conjugal, A morte de Ivan Ilitch, Sonata a Kreutzer, Padre Siérgui

Meu primeiro experimento com o imortal Liev Tolstói. Acertei em cheio na escolha! Esse livro reúne quatro novelas curtas e fáceis de serem lidas: Felicidade Conjugal, A Morte de Ivan Ilitch, Sonata a Kreutzer e Padre Siérgui.

Padre Siérgui foi a única que não me cativou. A história é confusa, e faz sentido: Tolstói a reescreveu várias vezes, e ela só foi publicada postumamente. Há até uma fala do protagonista, "Sou assassino", que não se justifica na trama. É um vestígio de uma versão anterior.

As outras três, porém, são sensacionais. Cada uma toca um sentimento diferente. Tolstói era, sem dúvida, um mestre em entender a alma humana e a sociedade em que vivia, e sabia narrar isso de forma brilhante.

Não vou destrinchar cada uma aqui. Tem muito material por aí. Mas o que posso dizer é que, ao terminar cada história, eu precisava ir atrás de resenhas, vídeos, análises… Cada uma me fez pensar, repensar, e até enxergar reflexos da minha própria vida.

Felicidade Conjugal

Achei essa história, por que não? Bonitinha. Uma moça jovem, ainda lidando com o luto da mãe e com a ausência do pai, se envolve com um homem bem mais velho, amigo da família e tutor das finanças. Ele a via como... uma menina.

Ele não se comportava de maneira nenhuma como os vizinhos que chegaram depois do falecimento da mãe e que achavam necessário ficar calados e chorar, sentados conosco; ao contrário, ele se mostrou falante, alegre, e não disse uma palavra sobre mamãe, de tal modo que aquela indiferença de início me pareceu estranha e até imprópria, da parte de uma pessoa tão próxima. No entanto, depois, entendi que não se tratava de indiferença, mas de sinceridade, e fiquei grata por isso.

Como é possível mudar tanto assim? Como a senhora cresceu! Veja só, era uma violeta! Virou uma rosa completa.

Acompanhar o florescimento do amor entre os dois, a leveza do início e sua transformação ao longo do tempo foi algo que me tocou. O amor ingênuo vira desgaste, mágoas, brigas. E quando tudo parece esgotado, o casal opta não pelo fim, mas por um recomeço, mais maduro, mais verdadeiro. Não sabemos o que vem depois, mas o que fica é essa escolha bonita: seguir enfrentando os altos e baixos da vida juntos.

A Morte de Ivan Ilitch

Talvez a mais famosa das quatro. É a história sobre a inevitabilidade da morte e a busca por uma vida autêntica.

“A questão não está no ceco nem no rim, mas na vida e… na morte. Sim, a vida estava aqui, mas agora está indo embora, indo embora, e eu não sou capaz de retê-la. Sim. Para que me enganar? Por acaso não está evidente para todo mundo, menos para mim, que eu estou morrendo e que a questão, agora, é só o número de semanas, de dias… e pode acontecer agora mesmo. Havia luz, e agora são trevas. Uma hora eu estava aqui, mas agora eu estou indo embora! Para onde?”

“Eu não vou existir, mas então o que vai existir? Nada vai existir. Mas, então, quando eu não existir, onde estarei? Será mesmo a morte? Não, eu não quero.”

Ivan Ilitch é um juiz medíocre que viveu como achava que se devia viver: tudo dentro das convenções sociais. Um dia adoece, sem cura, e começa a encarar o vazio da vida que levou. Tudo era aparência.

“É a morte. Sim, é a morte. E eles, todos eles, não sabem de nada, não querem saber, e não têm pena. Ficam tocando música.”

“Para eles, tanto faz, mas eles também vão morrer. Tolos. Primeiro eu; depois eles; mas eles também vão. E ficam se alegrando. São umas bestas!”

“Não pode ser, não é possível que todos estejam sempre condenados a esse pavor medonho.”

O final é simplesmente avassalador. Não consegui deixar de marcar inúmeros trechos. A narrativa dos seus últimos instantes é tão vívida que parecia que eu estava ali, vendo tudo. Nos momentos finais, ele deixa o medo e aceita e, ao aceitar, vive. É de arrepiar.

E Ivan Ilitch se pôs a escolher, na imaginação, os melhores momentos de sua vida agradável. No entanto — coisa terrível —, todos aqueles melhores momentos de sua vida agradável agora lhe pareciam inteiramente distintos do que pareceram na época.

E de repente ficou claro, (...) Como é bom e como é simples. E a dor? E a morte? Onde está? Que morte? Não havia medo nenhum, por isso também não havia morte. Em lugar de morte, havia luz.

Sonata a Kreutzer

Talvez não tão impactante quanto Ivan Ilitch no final, mas ainda assim genial. Um homem narra, num trem, como matou a própria esposa. O que ele descreve, hoje, qualquer um reconheceria como um relacionamento tóxico.

Sabe aquela relação cheia de altos e baixos? Tudo vira motivo para conflito. Conversas banais viram discussões gigantes. No dia seguinte, vem o pedido de desculpas, a reconciliação, o carinho e, logo depois, tudo de novo. Um ciclo sufocante.

A história também gira em torno do ciúme. Não dá para não lembrar de Dom Casmurro, ainda não li, mas sei que o tema é o mesmo: ela traiu ou não? A dúvida nunca se resolve totalmente. O protagonista se afunda cada vez mais na paranoia, e a espiral de desconfiança cresce. É um retrato fiel de muitos relacionamentos reais, mesmo hoje.

Amar um homem ou uma mulher a vida inteira é a mesma coisa que dizer que uma vela vai ficar acesa a vida inteira

Afinidade espiritual! Comunhão de ideais! — repetiu ele, emitindo seu som peculiar. — Mas, então, nesse caso não há motivo nenhum para dormirem juntos (desculpe a grosseria). Senão, por causa da comunhão de ideais, as pessoas iriam dormir juntas — disse e riu, nervoso.

Para as pessoas infelizes, é melhor morar na cidade. Uma pessoa pode viver cem anos na cidade sem se dar conta de que já morreu faz tempo e de que está podre.

Ufa! Quanta emoção essas novelas! Com certeza, irei me aprofundar mais nas obras de Tolstói, como os imortais Guerra e Paz e Anna Karenina. Fico feliz de ter começado por aqui, foi uma estreia poderosa.



Eu não sou um robô 😁Feito por um humano 😉

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criado de forma natural por um humano.
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